O spinning pode ser a pesca mais adequada a um principiante
Neste diário pretendo anotar as experiências e aprendizagens que vou fazendo. Nesta fase estou quase 100% dedicado ao spinning na zona de Sintra, mas também pratico surfcasting, bóia e chumbadinha, pesca embarcada (nos Açores) ao corrico etc. Efectuei todos os cursos do Segredos de Pesca (que recomendo) e assisti a centenas de horas de vídeos, lives e podcasts. Parte teórica não me falta. Mas claramente não chega.
Estou mais dedicado ao spinning neste momento porque de todas as formas de pesca que já experimentei é a mais simples de praticar e porque me deu mais e melhores capturas.
Ainda sou muito principiante mas o meu primeiro robalo tinha 2kg e os outros foram sempre exemplares decentes. Nas outras formas de pesca nunca cheguei perto. Ou grades ou peixe miúdo. Não que não sejam mais produtivas: a acreditar em pescadores experientes, eu devia apanhar mais peixe de outras formas do que ao spinning. Aliás, comprei o equipamento todo no OLX e o rapaz que mo vendeu estava frustrado porque em 6 meses não teve um só toque enquanto que no surfcasting conseguia ter mais sucesso.
Há razões que podem explicar porque é que eu tive mais sucesso no spinning comparado com outras modalidades, sendo mais principiante no mesmo do que nas outras formas, contrariando a lógica ou o senso comum que diz que o spinning é menos produtivo.
1- No spinning a preparação da pesca demora uns minutos, é uma pesca sem iscos e engodos, as canas são pequenas e leves e não tem quase logística nenhuma, o que favorece muito uma maior frequência e pesca de improviso ou impulso. Por exemplo, no robalo de 2kg eu estava na praia com a minha filha a passear pelas rochas e como estava sol e águas muito lusas nem sequer ia com expectativas nenhumas, só queria ver as amostras trabalhar e treinar, fazer reconhecimento do Magoito na maré vazia. Se fosse qualquer outra forma de pesca não a teria ido praticar naquelas circunstâncias. Portanto, o facto de poder dar uma percentagem superior de grades, pode ser compensado no meu caso pelo aumento da frequência das pescas. Se tenho uma horinha livre e o mar está bom, vou lá testar uma pesca. Não acho que tenha sido só sorte eu ter apanhado já vários robalos, perdido 2 e tudo num só verão e o rapaz que me vendeu o material não ter tido um só toque em seis meses. Acho que o que aconteceu é que eu moro perto do mar e fui mais vezes e experimentei mais.
2- O tempo útil de pesca é muito mais optimizado para principiantes o que aumenta a probabilidade da captura. A montagem do spinning não tem grande ciência, mesmo usando chicote de fluorcarbono são só 2 nós fáceis com fios fáceis de trabalhar e raramente é um factor que leve a perdas. O que se pode ajustar é trocar amostras, o que se faz num minuto. Este factor é essencial porque por vezes podemos estar 5 horas à pesca e na verdade não estamos a pescar. No spinning temos sempre feedback, por exemplo, se uma amostra não está a trabalhar bem sentimos que não está a trabalhar na ponteira da cana e a solução é alterar algo e é fácil alterar (amostras diferentes, recuperações, timings de lançamento etc.). Isso faz com que rapidamente possamos adaptar a pesca (na medida do possível) a condições dos pesqueiros. Noutras formas de pesca não temos feedbacks tão simples porque os anzóis estão lá no fundo, usamos monofilamento mais elástico e canas muito maiores (e tem de ser assim). Também é muito mais fácil aproveitar uma hora quente e re-armar a pesca entre capturas. Infelizmente só tive este problema uma vez ao spinning mas em 30 minutos tirei dois robalos e um sargo (sim, um sargo ao spinning, não me perguntem...). A não ser que os vinis estejam danificados, é fácil tirar a amostra e estar pronto a lançar de novo. Também é mais fácil mudar de pesqueiro, aliás, faz parte da estratégia varrer uma costa toda, andar por uma praia. Mesmo que seja preciso ir para o carro não se pensa 2x, é simples de arrumar e ir para outro lado. No mesmo dia chego a ir a 3 pesqueiros diferentes. Não se compara a equilibrar e calibrar devidamente uma montagem à boia, lidar com estralhos que têm metros, linhas ultra finas e anzóis pequenos e discretos, assim como iscar devidamente iscos delicados e que se desfazem todos ou têm má apresentação se não for mesmo bem feito. Ou refazer uma montagem, um estralho, empatar anzóis etc. Depois pode haver vento, as canas podem ter 5, 6, 7 metros e os pesqueiros se forem altos também exigem muita perícia para nos sabermos mexer lá em segurança. De todas as vezes que fui para pesqueiros bons para o pião acho que passei mais tempo a resolver problemas como linhas enleadas e prisões do que propriamente com a isca na água e sempre ansioso com as vertigens. E mesmo com a isca na água às vezes já estava mal apresentada e eu cá em cima já não vejo. Eu posso concluir hoje que quando ia umas 8h ao surfcasting na verdade eu não estava a pescar 8h... Porque quando recolhia tinha enleios nos estralhos ou o peixe já lá tinha ido rapar a isca. Podia estar lá 24h não ia apanhar nada... Só hoje é que percebo o valor de uma dica no curso de surfcasting de começar primeiro por fazer testes só para ver se há enleio. Ou seja o spinning ensinou-me o valor da optimização do tempo de pesca efectiva. Quando regressar às outras formas de pesca vou certamente aplicar esse princípio a todas e ser mais perfeccionista e treinar mais simplesmente fazer nós e montagens rapidamente, até porque acredito que são mais produtivas que o spinning, contudo, implicam uma atitude proactiva e dinâmica, não posso ter receio de mudar de montagens e refazer tudo ou mudar de pesqueiros só porque vai ser uma trabalheira gigante mudar tudo.
3- A ferragem é mais certa e a captura mais segura. É verdade que já perdi dois robalos que se desferraram e percebo como foi (a linha folgou quando veio uma onda e eles lá se soltaram). E é verdade que as canas pequenas e leves metem mais medo que se partam! Mas acho que as capturas nas outras formas que pratiquei são mais complexas e delicadas e perdi muito mais peixe, por vezes sem o perceber. É preciso experiência para reconhecer o toque do peixe em modalidades como a chumbadinha e distinguir de chumbada a correr pelo fundo e fazer a boa ferragem. No surfcasting aconteceu-me partir um estralho numa capturas de um espécime maior... lutei com ele uns 5 minutos e no fim trau. Também ter ficado sem anzóis sem ter dado por nada na cana porque estava ocupado com a 2ª cana (outra lição: mais vale 1 cana bem armada e gerida do que 2 mal geridas...). No spinning os materiais são muito robustos, o fluor tem 0,35mm ou 0,40 e o multi 0,16mm é muito robusto. Não há empates de anzóis e não há muitos nós para a coisa correr mal. Os anzóis de vinis e fateixas de amostras são grandes e robustos se não estiverem oxidados. A pesca também nunca é feita em grande altura o que facilita retirar o peixe. É uma limitação do spinning mas também significa que em princípio não se colocará um problema muito grande na hora de içar o peixe para fora. Os pesqueiros tendem a ser rasos ou mesmo praia. Tirar um peixe pesado de um pesqueiro de 10 metros de altura com um fluor de 0,18mm em zonas de rochas com ondas, é coisa para suores frios...
4- É uma pesca muito versátil e adaptativa em pesqueiros que tendem a ser fáceis de abordar. Faz-se de praia, de rocha, de pontão, de barco. Tenho muitos pesqueiros adequados ao spinning perto de casa, pelo menos no verão, é uma questão de ver onde posso praticar (e se consigo) no inverno. Moro perto de Colares e aqui na zona há muitos pesqueiros rasos com pedra em que sempre tive dificuldades à bóia ou chumbadinha, ou porque corria muito e enleava com as ondas ou porque prendia nas pedras. Consigo abordar alguns pesqueiros com pouco mais de 1 metro de profundidade nem que seja com pacientes à superfície. Consigo pescar em momentos em que outras formas de pesca não parecem funcionar. Quase sempre que tirei robalos não havia ninguém à pesca por ali porque o mar estava demasiado pequeno. Um dia escrevo aqui sobre as minhas observações no meu excel da pesca para já, mas fogem completamente ao senso comum, todas as capturas de dia, pleno sol, às vezes águas muito lusas e de madrugada só apanho grades...
5- Dá muita formação e informação para outras formas de pesca e pode ser um bom ponto de partida: eu hesitei muito antes de investir no spinning porque já tinha investido no surfcasting e bóia e parecia que estava a mudar outra vez porque as 2 primeiras não me estavam a satisfazer. Mas hoje percebo que fiz bem. Para já, o que aprendi nas outras formas foi muito útil no spinning, particularmente o surfcasting, não foi tempo perdido (e a elas voltarei). Aliás, acho que a nível dos cursos do Segredos de Pesca o módulo do surfcasting com as muitas aulas sobre leitura do mar e dos pesqueiros é adequado para o spinning também, desde a identificação das coroas, agueiros e o comportamento dos robalos. O spinning como é dinâmico e aumenta a frequência de idas à pesca providencia um contacto muito frequente com o mar e pesqueiros nas mais variadas condições. Eu hoje vou fazendo reconhecimento de pesqueiros onde já percebi que posso ir aos sargos à bóia ou chumbadinha noutros dias ou então ir para o surfcasting. Comecei um excel muito completo onde estou a anotar tudo e mais um par de botas: marés, luas, temperatura, cor da água, hora, etc. e notas pessoais, só para me organizar e reter todas as observações.Vemos o peixe muitas vezes, uma vez que estamos próximos do mar pela natureza da pesca. É o total oposto daquela pesca dos senhores reformados de cima das falésias em que atiram uma pedrada ao fundo e ficam lá horas sentados. Estamos mesmo à beira da água, por vezes dentro dela (vou com o fato de surf para dentro de água em pesqueiros rasos se for preciso passar a rebentação). Eu desde que comecei fartei-me de ver robalos, bailas, sargos, tainhas... antes não via nada. Assisto (ainda hoje vi) ao peixe por vezes aproximar-se e seguir a amostra mas depois fazer meia volta desconfiado, um comportamento que nunca observei noutras formas de pesca.
6- Filtra as capturas para espécimes maiores e motivantes: este factor pode não parecer muito relevante, mas acho que é. Eu tive capturas nas outras formas de pesca mas tirando o surfcasting, quase sempre devolvi ao mar por não terem medida ou mesmo tendo serem peixes demasiado pequenos, fruto certamente da minha inépcia de não conseguir enganar peixe maior. Contudo no spinning na minha segunda ida à pesca ferrei um robalo de 2kg num momento que não vou esquecer. Apesar de pescar há 1 ano e antes disso ter tentado também uns anos, considero que foi naquele momento que se deu uma transição. Deixei de estar ansioso com a ideia de que não percebo nada e não consigo pescar nada. Isso motivou-me para a pesca em geral, incluindo as outras formas todas de pesca com que estava frustrado. Eu acredito que consigo nas outras também, apesar de admitir que é mais fácil consegui-lo ao spinning (mesmo que menos frequentemente).
7- Reduz as variáveis envolvidas e pelo aumento da frequência de observações permite tirar conclusões mais certas no que respeita ao comportamento dos robalos - Tenho de ser muito transparente: eu apanho muitas e muitas grades ainda. Aliás, comecei a fazer o excel e a ser mais metódico (a minha formação é matemática aplicada a economia) para procurar aumentar a frequência de capturas e ver se encontro melhorias e padrões tal é a minha perplexidade com os contextos de algumas capturas (águas lusas, sol, mar parado) e sobretudo ter grades sucessivas em condições que eu acharia óptimas (mar mexido, agua oxigenada, madrugada). Mas com o spinning, como eu sei que a parte da montagem está certa e numa sessão consigo cobrir várias amostras assim como múltiplos locais com uma técnica consistente que repito dia após dia e varrendo uma grande extensão de mar (a amostra vem a trabalhar 30-70 metros, eu próprio desloco-me para pontos diferentes de uma praia etc.), consigo antes focar-me noutros pontos para lá das iscas e montagens. Reparem, se num dia de sol a minha amostra de cor sardinha apanhou 2 robalos, então noutro dia com condições semelhantes de maré, onda, céu, luz etc. nada faria prever que a mesma amostra não funcione ao passar em frente ao robalo com a mesma recuperação. Claro que isto acontece: o peixe pode mudar de comportamentos ou não estar ali, mas pelo menos a amostra é igual e a montagem exactamente igual, o local o mesmo, o que me leva mais facilmente a concluir que naquele pesqueiro não há robalos naquele momento ou, menos provável sem confirmação visual, que desconfiaram da amostra. Numa grade posso concluir uma de duas coisas: ou os robalos não andavam lá ou viram as minhas amostras e desconfiaram, não atacando. Em dias como hoje em que um robalo grande se aproximou de uma amostra (vi-lhe o vulto numa onda) e depois não a ferrou, eu pude concluir que ele não se deixou enganar (era uma amostra bojuda e com ratling). Mas também concluí que ele andava lá aquela hora naquele sítio, o que é muito complicado num surcasting de noite com a chumbada a 100 metros no meio da rebentação ou numa pesca ao pião em águas oxigenadas com o peixe a metros de profundidade e nós cá em cima. A amostra quando não funciona e ele está lá, tende a atrair o robalo até ele fazer meia volta e isso permite-me ter uma confirmação visual de que o peixe lá anda (para grande frustração minha!) Diga-se que no meu tal excel onde faço o registo, anoto estas observações visuais porque tenho grades em que não vejo robalo nenhum mesmo com águas com óptima visibilidade.
Em resumo, estas são algumas razões que me fazem pensar que o spinning é adequado para um principiante. Apesar de ser reconhecidamente menos produtiva, também se direcciona para capturas maiores e compensa (no meu caso) pelo aumento da frequência e optimização do tempo de pesca de um principiante.
Posto isto, acho que é só uma modalidade e também vejo limitações que a tornam mais adequada a ser complementada com outras formas de pesca, nem que seja para variar dos robalos
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