Como ter menos grades ao spinning (e manter um logbook de pescas)
Penso que é geralmente aceite que o spinning providencia muitas "grades" (não apanhar nada). A minha experiência pessoal é a oposta, comparado com surfcasting, bóia ou chumbadinha mas tenho total noção que se deveu a falhas da minha parte com pesca mal apresentada por uma série de razões e que levou a menos tempo útil de pesca comparado com spinning.
O grande problema das grades em alguém que se está a iniciar é que essa pessoa nunca a chega a ter qualquer referência, qualquer ponto de partida. Se alguém tem a sorte de acertar num pesqueiro, amostra e condições, pelo menos ganha confiança que é possível e que aquele sortido resultou uma vez. Com uma sucessão de grades logo ao início, é possível continuar completamente à nora da primeira à última pescaria, sem qualquer evolução porque não há referências e isso levar a frustrações.
Mas para já:
Esquece o conceito de grade no spinning, o importante é tempo de pesca vs capturas e a qualidade das mesmas, bem como manter a pesca numa zona de diversão Encara tudo como a mesma pesca contínua mas com intervalos pelo meio... Primeiro é preciso definir o que é uma "pescaria de spinning". Tanto podemos não apanhar nada em 30 minutos como em 5h ou mesmo um dia inteiro. Podíamos dizer que fazer 5 pescas de 1h é equivalente a uma pesca única de 5h, embora a primeira possa dar "5 grades" e a segunda "1 grade" apenas. Então e se em 3h eu for a 3 praias diferentes? Isso conta como uma grande ou 3 grades? Qual é a rentabilidade real de pescas como o surfcasting se implicarem, como eu fazia, 8-9h de seguida, quando comparadas com o spinning em que chego a estar menos de 1h num pesqueiro ou mesmo 20-30 minutos? Longe de mim duvidar que há pescas mais produtivas quando se é bom nelas, mas o que quero sublinhar é que podemos estar a comparar coisas muito diferentes quando dizemos "fui ao spinning 10 vezes e tive resultado xis" e "fiz surfcasting 10 vezes e tive resultado xis" em termos de horas de pesca. E outro ponto, como se comparam "grades" que são intercaladas com capturas tão diferentes? Por exemplo, a dourada (que nunca pesquei) envolve mais grades que a pesca aos sargos. A pesca grossa no mar pode envolver muitas horas. Mas depois um exemplar compensa. O meu primeiro robalo tinha 2kg e valeu mais para mim que as dúzias de pequenas capturas anteriores noutras pescas.
É preferível ir múltiplas vezes pouco tempo do que uma vez muito tempo no mesmo pesqueiro. Isto pode aumentar a probabilidade de grades (ver ponto acima) mas pode por outro lado aumentar as capturas no total face ao tempo de pesca e evitar exaustão e frustração. A primeira razão para isto prende-se com testar mais condições de mar, maré, metereologia e sobretudo locais. Com uma só ida longa estamos a meter as fichas todas num "sorteio" apenas, com mais idas e mais curtas estamos a aumentar probabilidades de lançar num dia em que os robalos estão naquele spot ou mais activos. O spinning presta-se a esta abordagem por ser muito prático, em poucos minutos podemos estar activamente a pescar. Claro que indo múltiplas vezes muito tempo se aumentam as probabilidades de captura, mas tem de haver um equilíbrio ou então é fácil desanimar, pois não tem piada nenhuma estar a lançar horas e horas e não ferrar nada, daí referir no ponto acima a questão de manter numa zona de diversão e não de saturação. E prende-se com uma observação que tenho feito: algumas das minhas capturas são feitas nos primeiros lançamentos da jornada ou, em alternativa, no primeiro lançamento para um pesqueiro. E isto é de uma forma totalmente desproporcional ao meu tempo de pesca... Quase que garanto que a probabilidade de apanhar algo num sítio vai caindo ao longo do tempo. Se não ferro nada nos primeiros 30 minutos é muito mais provável não valer a pena estar lá mais 2h, 4h... Por exemplo, um dia fiz 3 capturas consecutivas a partir da mesma pedra logo com a primeira amostra que utilizei e logo da primeira vez que fui para lá e nos primeiros 30 minutos. Mal cheguei lá vi o peixe na água (águas muito lusas), sargos e robalos. É um pesqueiro que não dá para bater, é só mesmo aquela pedra e temos mais ou menos 150º graus a partir dali, uma diagonal para a esquerda, em frente, ou diagonal para a direita. Só é pescável em maré de meio cheia para cima. Pensei que tinha descoberto uma "peixaria" pessoal e que dali para a frente seria só tirar peixe dali. Fui lá mais 5 vezes nas duas semanas a seguir e não apanhei nada nem os vi lá... Conclusão: se há lá peixe, provavelmente dou com ele nos primeiros 15-20 minutos, aliás, com confirmação visual (naquele dia eu via-o lá em baixo!) Se estou lá e não dá nada nem vejo nada na água ganho mais em ir-me embora explorar outra zona ou ir para casa. Agora passou a ser o meu pesqueiro de "desenrasca", uma vez que é o mais próximo de casa. Mesmo que só tenha 1h livre, posso lá dar um salto de 20-30 minutos, espreitar, mas já não fico ali 2h a insistir. Com o tempo espero simplesmente detectar um padrão que possa tornar-me cada vez mais cirúrgico nas condições ideais deste e de vários pesqueiros.
Naturalmente que uma elevada frequência é mais fácil se uma pessoa viver perto do mar como é o meu caso em que em 10 minutos estou em múltiplos pesqueiros. Se alguém vive mais longe e tem de conduzir uma hora ou mais para chegar a um pesqueiro, percebo que seja irracional estar a insistir apenas 1h e ir embora, é natural que prefira aproveitar bem a ida à pesca.
Independentemente do tempo de pesca, é preferível testar múltiplas zonas com uma amostra ou vinil que já resultou ou trabalha bem naquelas condições do que insistir demasiado no mesmo spot com amostras e vinis diferentes. Mais uma teoria que pode carecer de confirmação, mas prende-se com as minhas observações descritas acima: capturas feitas nos primeiros lançamentos para um pesqueiro com amostras completamente distintas. Isto prende-se com a questão da furtividade também, que abordo mais abaixo: quanto mais tempo no spot mais o escaldamos e o provável é o robalo, se lá estava, ter ido embora por nos ter detectado ou desconfiado das amostras. É verdade que quem vem de outras pescas pode ir com o mindset de ser irrelevante andar por um pesqueiro, visto que se estamos parados no mesmo sítio também há a probabilidade de passar lá um robalo. É um facto que nós nas outras pescas tendemos a ocupar um pesqueiro e passar lá uma jornada. Mesmo quando grandes pescadores de surfcasting como os do Segredos de Pesca falam em "pesca dinâmica" para incentivar o pescador a deslocar-se na praia conforme a maré, não deixa de ser a mesma praia e não deixa de ser uma pesca em que se lança e se espera. É um dado adquirido em termos probabilísticos que a probabilidade de dar com um robalo quando estamos nós e em movimento é superior, pois estamos expostos à possibilidade de os capturar estejam eles em movimento ou estejam eles parados num spot, sendo que o robalo anda encostado à costa. O certo é que eliminamos a grade de estarmos a pescar no mesmo sítio estando eles parados mais ao lado. Por outro lado podemos ter a grade de estarmos a deslocar-nos de um pesqueiro para outro mesmo no momento em que eles vão a passar por ali...
Mantém desde início um logbook ou diário em excel e regista tudo, não só as capturas mas também as grades, fazendo delas algo produtivo. E talvez até dias em que não vais à pesca sequer para entrar no flow do mar. Confesso que como principiante fico fascinado com a capacidade de muitos pescadores experientes seguirem o mar como um processo contínuo. Eles não estão apenas a olhar para aquele dia e aquelas condições, eles podem ter intuitivamente um registo dos dias anteriores, seja do clima, mares, ventos, marés, seja de movimentos de areias. Eu, como qualquer principiante não ligado ao mar, não tinha qualquer noção de marés, estados do mar etc. a não ser que fosse à pesca naquele dia e aí sim iria ver o windguru para aquele dia. Mas aquele dia não é isolado dos anteriores. Assim anoto dias em que o mar ou o clima parecem mudar de forma significativa. Outra questão é pessoal que só regista capturas. Claro que registar capturas é muito importante, mas igualmente importante no longo prazo é registar ao detalhe as condições em que não se apanhou nada. Assim em vez de encarar uma grade como um desperdício de tempo, é preferível vê-la como uma observação ou estudo: já sabes que naquele dia não resultou. Não significa que nunca resulte, como é evidente, mas supõe que ao fim de 1 ou 2 anos detectas que em 50 pescas com mar de 0,5m-1m, sol e maré cheia naquele pesqueiro apanhaste 2 ou 3 robalos apenas. Se calhar está-te a dizer algo...
Seguem as variáveis que registo actualmente, está sempre sujeito a revisão:
Pesqueiro Classificação Estrelas Período Cor da Agua Opacidade Limos (1-3) Cor do céu Modalidade Hora Início Hora fim Tempo total Visual Ferragem Capturas Hora da captura / ferragem Peso kg Mês Nuvens Chuva Onda Período Direção Onda Temperatura do mar Direção corrente Maré Movimento Maré na captura Maré início Maré fim Mínima Máxima Amplitude do dia Pressão Atm. Temperatura Vento Direção vento Lua Idade Notas
Não me vou alongar na descrição de cada variável e está resumido aqui nos títulos, mas a primeira parte refere-se a testar as classifcações de actividade dos peixes na app que uso (Fishing Point), que presumo ser semelhante à dos borda de água. Não tem qualquer influência na minha decisão de ir à pesca e na hora, mas já agora tenho curiosidade a ver se há coincidências (para já não vejo nenhuma).
Também tenho uma página só para registo de capturas em que incluo notas com mais detalhe sobre a amostra utilizada e o contexto em que ocorreram, é uma descrição mais qualitativa. A meu ver um dos problemas em mudar muito de cores e amostras ao longo da jornada é que induz ainda mais ruído na recolha dos dados se ao mesmo tempo também nos estamos a deslocar e a testar zonas diferentes. Portanto, só vou por definição rodar amostras se insistir mesmo numa zona. E se planeio sempre rodar amostras não há qualquer interesse em listar exaustivamente as que usei mesmo em grades.
Vindo de estatística sei que com tantas variáveis (e muitas nem podem estar aqui ou são desconhecidas) são precisas centenas de registos para eventualmente ver padrões, o que pode demorar anos. Por exemplo, o mar muda muito ao longo do ano, um mar de verão é bem diferente de dias de inverno de mar pesado, pelo que podes precisar de 2 ou 3 verões para ver padrões em mar de verão etc.
Outro aspecto é que tento manter a questão das amostras que usei fora da equação excepto nas capturas e desferragens porque tendo a, em qualquer pesca, utilizar amostras que trabalhem bem e tenham resultado em dias e se não dão, uso outras. Para já é um dado adquirido que vou experimentar amostras diferentes, mas isso é algo que tu controlas. O que não controlas é o mar e os robalos na água. O que me leva a outro ponto:
Quando tens confirmação visual de haver robalos, inclusive a perseguir mas a não ferrar ou dar toques, então é altura de ir mudando de amostras até ferrar um, depois é manter a amostra. Quando opto por um vinil realista que já deu provas (ex: verde seco) ou por uma amostra que já apanhou peixe (cor sardinha, padrão "tigre" amarela e preta) prefiro concentrar-me em explorar sítios diferentes e menos em ir mudando de amostra. Isto é a minha abordagem actual e vale o que vale, estando a ser testada. Tendo a preferir vinil ou no limite uma amostra muito discreta se o mar estiver mais manso. Isto porque eu não quero escaldar um pesqueiro com a própria amostra e os lançamentos. Se não há ferragens é que posso eventualmente usar artilharia mais pesada, como amostras com rattling e mais bojudas nem que seja para atrair um robalo para uma confirmação visual (mesmo que não morda). Eles muitas vezes aproximam-se das minhas amostras mais chamativas, sem atacar. Isto é um bocado o contrário da abordagem de outros que recomendam usar amostras mais chamativas e ir baixando. Eu penso que o contrário é melhor (em águas mais "discretas") porque tenho receio que o robalo altere o seu comportamento após dar com um objecto estranho e chamativo que parecia um peixe e que ele detectou que afinal não era. Saliento que isto pode muito bem explicar porque razão as minhas capturas tendem a ser nos primeiros lançamentos num spot. Não é só o pesqueiro que pode escaldar após uma captura, pode escaldar se o peixe dá com uma amostras artificial que ele detecta e não ataca, especialmente se for o equivalente a uma carrinha do peixe a apitar o la cucaracha ao chegar à aldeia e que afinal estava armadilhada com explosivos. Pode ir-se embora ou ficar desconfiado demais ou desinteressado. É quando tenho confirmação visual de que há robalos na água (ex o perfil deles nas ondas) que vou focar-me na amostra e nas animações, até porque faz parte da diversão deste tipo de pesca.
Com o tempo e a ver padrões nas condições de sucessos e insucessos, sê o mais cirúrgico possível nas mesmas e tende a evitar repetir condições de grades: diversifica pesqueiros, horas, condições, métodos etc.. Quando alguém diz que foi 30 vezes e teve 30 grades (encontrei um assim num fórum) ou o que me vendeu o equipamento inicial no OLX e tentou durante 6 meses sem um toque, a pergunta que eu faria era: mas foste sempre no mesmo pesqueiro? Nas mesmas condições? A pescar da mesma forma? A lançar para o mesmo tipo de spots? É que eu suspeito (e é só uma suspeita) que essas pessoas padecem do mesmo problema que eu tive no surfcasting ou bóia. Estava a fazer uma ou várias coisas mal e a repetir isso uma e outra e outra vez. Por exemplo no surfcasting era insistir em mares demasiado grandes em que a chumbada corria muito e os estralhos enleavam e sempre na mesma praia (Praia Grande) que estava toda areada. Só tinha capturas (raras!) na maré vazia porque era nessa hora que eu conseguia montar a pesca num cabeço de areia e lançar para lá da rebentação mais pequena. Nunca achei que fosse do isco, tal como não acho que o problema seja a amostra xpto que vai ser a matadora e é a que me falta. O ponto é mais para não nos prendermos ao que já fizemos e não resultou e explorar outros pesqueiros, horas, condições, técnicas e por aí fora, em vez de repetir demasiadas vezes a mesma coisa sem sair da zona de conforto.
Sê furtivo A sério, a pesca é mais parecida com caça do que se pensa. Pescadores mais experientes dizem isto. Vozes, passos, vulto, sombra na água etc. é de evitar. Uma das razões plausíveis para eu apanhar mais robalos no início da pesca ou nos primeiros lançamentos para um spot é simplesmente porque eles não me detectaram ainda pois acabei de chegar. Daí não me parecer também relevante insistir demais na mesma zona porque vamos escaldando o pesqueiro com a nossa presença, capturas anteriores e lançamentos. E de outra observação: rigorosamente todas as minhas capturas foram efectuadas em momentos de pesca em que não havia um só pescador na zona e longe de outras pessoas. Alguém que tenha grades sucessivas eu perguntaria se ele tem consciência deste aspecto, porque pessoal que vá em pares ou grupos à conversa para rochas está a por-se a jeito para grades. Lançar, andar em cima da pedra, amostras a bater na água, é natural que eles vão captando que há uma presença ali, mais ainda se forem múltiplas pessoas. Em águas lusas, paradas e dias claros é um problema maior. Vê os peixes como um animal desconfiado e atento e menos como algo burro que morde tudo o que vê. Os robalos grandes vivem muitos anos, não são parvos.
Por último:
Não fiques obcecado com o período da madrugada, anoitecer ou noite, mas sim com o pesqueiro, as condições do pesqueiro e para onde lanças. Ir de dia tem vantagens. Se fores como eu, já vais para esta pesca um bocado com a percepção a priori que amanhecer e anoitecer são as melhores horas e até que de dia com muito sol não vale a pena. Foi um erro meu no surfcasting: fui sempre à noite! Como expliquei num post anterior, as minhas capturas têm sido todas de dia com muito sol (e mares quase parados) e só tenho tido grades ao amanhecer. Mas isto ocorre em parte porque sem luz eu não me meto nos pesqueiros onde fiz as maiores capturas de dia. Não é que corra riscos de dia, mas com luz não me importo de caminhar e estar no mar com água pelos joelhos ou cintura com fato de surf, ou em cima de rochas que se chegam a vau. Não me vejo nesses spots de noite. De noite também não consigo lançar exactamente para o pé de uma pedra de noite nem observar o fundo para usar um vinil mais rente ao mesmo e não o perder ou ver sequer onde é que a minha amostra aterra. Também de noite não consigo ver o peixe na água e aproximações do mesmo à amostra. O resultado inicial é que eu de noite tendia a simplesmente ir lançando. E como ia a uma hora fixa nem importava a maré, ia às 5 da manhã e pronto. Afinal de contas era de noite, a melhor hora, qualquer sítio serve, o mar é irrelevante... Errado. Tive a sorte de fazer a primeira captura de dia em condições adversas teoricamente (águas lusas, 1 metro de profundidade, céu azul, mar parado etc.) e desfiz esse mito. Na verdade nessa captura eu lancei o vinil muito rente a uma pedra, foi algo arriscado. Mas resultou. O meu robalo de há 2 dias foi semelhante, vinil muito perto de uma rocha longe. De noite nunca faria isso. Nem com mar mais mexido ou todo tapado. Se é verdade que há benefícios nessas condições, por outro lado não vês o fundo com tanto detalhe. Portanto em teoria eu até acho preferível começar a ir mais de dia e com águas claras nem que seja para conhecer melhor pesqueiros, o trabalhar das amostras, os fundos, treinar lançamentos e por aí fora.
Em resumo, tudo o que aqui escrevo considero provisório mas intuitivo. É possível que eu próprio comece a ter uma sucessão de grades mesmo aplicando estes princípios e tenha de humildemente de rever alguns. Mas não duvido irei manter que o ideal é não ficar rigidamente a fazer o mesmo que antes resultou mas agora não resulta e que farei sempre experiências e explorações, pois mesmo algo que dá resultados aceitáveis podia dar resultados muito melhores de outra forma e faz parte do meu prazer da pesca ir aprendendo e evoluindo.
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